Não tinha muitos livros em meu ambiente familiar nem escolar. Mas, por algumas razões, a mais importante delas era ver meu pai sempre lendo os poucos livros que tínhamos, geralmente religiosos (Bíblia, Revista da Congregação Mariana), consumia rapidamente os livros lidos por meu pai e alguns emprestados de coleguinhas. Quando terminava estes, não “suportando” não estar lendo, passava a “devorar” os glossários (muito comuns nos livros didáticos da época). Acredita que até hoje tenho mania de ler esse tipo de texto: enciclopédias, dicionários etimológicos, entre outros do gênero?
Paralelas a essas leituras, deleitava-me nos textos dos livros didáticos, meus e de meus irmãos. Um, entre eles, tenho imensa saudade. Os textos eram uma narrativa que se construía em episódios no livro todo. Eram aventuras vividas por três amigos: Marcos, Marcelo e uma menina que não me recordo o nome, acho que Marta. Eles viajavam pelo mundo inteiro levados por uma Arraia. O livro tinha muito azul, penso que por causa do mar.
Depois me veio o momento de ler livros didáticos: Ciências, Geografia, História, Programa de Saúde (lembra??), aliás, não era Geografia e História, e sim, Estudos Sociais. O fato era que não conseguia “não-ler”.
E os dias mágicos estavam chegando. Os Gibis (Wall Disney, Zorro) entraram em minha vida, ou eu nas deles, ainda em minha infância. Conheci também, neste ínterim, os bolsilivros (é assim que se escreve?) - faroeste e revistinhas de Tex (um de meus irmãos servia ao quartel e me presenteava sempre que nos visitava). Meus heróis da infância, os personagens e meu irmão. Já minhas irmãs, (preciso dizer que sou a mais nova, eis a grande vantagem), me apresentaram, escondidas embaixo dos colchões, as fotonovelas. Neste momento eu me senti “gente grande”, e nem era ainda. A prova disso é que por causa de uma destas “benditas” revistas (mais picante, é claro), quase perdi um frango. Calma, leitor, vou explicar. Na verdade, a revista não era de minha irmã, mas cabe no contexto desta história. A revista era de uma irmã mais velha de uma amiga minha. A última tinha a mesma idade que eu. O fato é que minha amiga “surrupiou” a revista e a levou para a escola. Não deu outra. Lemos juntas no caminho de volta da aula. Eu contei a história lida, “que história!!”, para uma outra amiga mais nova que nós, e esta, por sua vez, contou à irmã mais velha que nós todas e que também, por sua vez, contou à sua mãe. Resultado: a mãe ameaçou contar à minha mãe, o que me deixou evidentemente apavorada a ponto de fazer uma promessa a Nossa Senhora Aparecida (era costume), prometendo à Santa um dos poucos frangos que eu tinha. Não sei até hoje se a história foi contada ou não. Só sei que também não dei o frango, afinal, como explicar isso à minha mãe daqui.
Mais tarde, junto à adolescência, chegaram a Coleção Edjovem, outras coleções, entre elas uma do Padre Zezinho que se intitulava “O Problema É...” Também nesta época conheci “pasmada” O Cortiço de Aluísio Azevedo e um livro que mudaria minha vida, “Asas contra a Parede” de José Carlos Leal. Ando procurando por ele. Quero que minha filha o leia. Também não me faltaram nesta época as Sabrinas, Júlias, Biancas, Sidney Sheldon, Júlio Verne e outros. Nunca eram muitos, por isso os relia várias vezes.
Quando jovem, entre várias leituras, dois livros destacaram-se: “A Cor Púrpura”, indicado e emprestado por uma professora muito querida, referência no meu Magistério, Joselha – ministrava Didática e “Geografia Física, Política e Social da América Latina” (mais ou menos esse título) de Melhem Addas, (veja que voltei aos didáticos). Na verdade, além das leituras, que foram maravilhosas, o contexto em torno delas foram muito importantes para mim. A respeito do último título, nós estávamos estudando esse assunto nas aulas de Geografia com o Professor Manoel, 3º ano Magistério, e eu lhe fiz a seguinte pergunta: Professor, qual a origem dos povos indígenas nas Américas, uma vez que os europeus já os encontraram aqui? O Professor Manoel não me respondeu... fez muito mais que isso. Ofereceu-me o título acima citado. Ele sabia o quanto os meus horizontes de leitora se ampliariam lendo o livro, muito mais que uma simples resposta. Essa atitude deste professor levei para vida.
Quem mandou pedir que fizesse meu memorial de leitura? Agora não dá para parar sem lembrar do quanto foi bom conhecer:
01. MACHADO: D. Casmurro? Acho que já li de 5 a 6 vezes;
02. EÇA: Eta! Que textos atrevidos...!!
03. GRACILIANO RAMOS: sem palavras...
04. EUCLIDES DA CUNHA: genuinamente nosso;
05. FERNANDO PESSOA: único em vários;
06. CDA: “Não me atrevo”;
07. AUGUSTO DOS ANJOS: podre!!?
08. MANOEL DE BARROS: “Coisa sem importância”;
09. CLARICE LISPECTOR: “A clandestina”;
10. MONTEIRO LOBATO: tempero nosso;
11. MILLÔR FERNANDES: fico pensando ás vezes, “será que ele sabe do quanto seus textos me fazem bem”!;
12. LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO: tenho a mania de reconhecê-lo de longe..... adooooooro, ao lado dele, de igual para igual, STANISLAW PONTE PRETA;
13. EVA FURNARI: a Bruxinha me enfeitiçou;
14. LYGIA BOJUNGA: só quero fazer escola diferente de “Osarta”;
15. LYGIA FAGUNDES TELLES: ainda ouço os estalos das folhas e galhos secos daquele cemitério abandonado;
16. JOSÉ DE ALENCAR: “desculpe Alencar, mas para quem conheceu Machado fica difícil voltar a seus textos.
Evidentemente não cabe aqui falar de todos, pois o que os livros nos proporcionam totalmente é indescritível. Mesmo aqueles que não foram mencionados já estão eternizados em minha memória.
Francisca Elizabeth dos Santos Alves.
(Este texto foi produzido ao responder uma atividade do TP 4: Leitura e Processos de Escrita I, página 180, 2ª edição).
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